Fabrício olhou para Vitória atônito. Balançou a cabeça negativamente. Simplesmente não conseguia acreditar na história que Vitória tinha acabado de contar a ele.
-Vitória, não sei qual foi a droga que você usou, mas não use mais está bem?!. Tudo que você me falou é simplesmente impossível. Preste atenção, em consideração aos muitos anos da nossa amizade vou lhe responder a primeira pergunta que você me fez quando chegamos aqui. Mas vou lhe adiantar que o que eu sei é o que está nos syber-livros.
No final do século XXI o mundo estava simplesmente impossível de se viver. O aumento da temperatura global, o degelo nas calotas polares, o aumento dos preços dos alimentos e da fome, devido principalmente a exaustão do solo e a má distribuição de renda, contribuirão para o inicio do holocausto atômico e biológico.
A maioria das nações do mundo entraram em confronto, os que ficaram neutros foram engolidos pelo desastre. Apesar da existência de bombas a vácuo, no final das contas, a maioria dos paises acabou mesmo foi utilizando bombas nucleares. Com o início dos primeiros confrontos nucleares a guerra começou a tomar conotações de exterminio da raça humana.
Após três anos de combate, metade da população do mundo daquela época, o que correspondia a cerca de 15 bilhões, morreram.. A outra metade, já castigada pelos efeitos colaterais das bombas nucleares, teve um destino ainda pior .
Não se sabe bem, se foi os Estados Unidos, a China, Rússia ou Israel, que utilizaram biotecnologia ou se foi uma mutação genética derivada dos focos nucleares, mas o que aconteceu foi uma fusão do vírus do ebola com o SAHS, o chamado MT-1. Na verdade, pelo que acabei encontrando em alguns syber-livros antigos, é que parte dos MT-1 também possuíam uma seqüência similar ao do vírus da varíola, o que justifica acreditar que algum destes paises tenha laçado mão do seu arsenal biológico.
Como você pode imaginar, as conseqüências foram desastrosas, pois em menos de dois anos 14 bilhões e meio de pessoas já tinham sido exterminadas pelo vírus. Isto porque, se alguém utilizou o MT1 para se beneficiar contra os inimigos, porque acreditava ter a cura para o vírus. Cometeu um terrível engano. Como você sabe melhor do que eu, o MT1 é o retrovírus – RNA facilmente mutável, não demorou muito para que o MT1 se transformasse em MT2, MT3... a vacina que se por ventura um dia existiu não fez efeito.
A esta altura do holocausto, após cinco anos de guerra cerca de 500 milhões de pessoas existiam sobre a face da terra. Os mananciais de água, o oceano, o ar, a terra, tudo estava contaminado, nada para se consumir, nada para se viver. Os que resistiram aos MTs agradeceram a seleção natural, ou seja, apenas os que não estavam susceptíveis ao vírus sobreviveram. Com o final da guerra, não posso dizer que houve vitorioso, pois para mim todos perderam.
Nos anos que se seguiram ocorreu a maior parte das mortes dos 500 milhões de sobreviventes devido, dentre outras coisas, as conseqüências das radiações: cânceres, leucemia, degeneração nervosa.... Ao final de trinta anos pouco mais de dois milhões de pessoas estavam vivas. O sistema capitalista finalmente caiu.
Porém, apesar de existir pouco material humano, ainda existia bastante conhecimento, cultural e tecnológico armazenados em computadores e livros. Então os lideres da época, isto já no inicio do século XXII, decidiram por implantar uma organizalçao social baseada em uma condição humana de vida máxima. Que o que chamamos atualmente de all life. Qualidade de vida total para os seres humanos quer sobreviveram ao holoucausto. Entretanto, nao se poderia repetir os erros do passado, era necessário respeitar a natureza, os sistemas vivos, e ainda assim viver o Máximo em qualidade de vida sem explorar do planeta Terra além do que ele poderia nos dar.
Como a quantidade de pessoas sobreviventes foi relativamente pequena, o que basicamente houve, foi uma corrida pela concentração destes sobreviventes em um único ponto. Os que se recusavam a vim voluntariamente, pelo que parece foram exterminados sem que a maioria soubesse disto. Afinal era o futuro que estava em risco e este futuro se chamava Marximus- a cidade. Os anos que se seguiram foi com a construção de marximus e com investimentos pesados em saúde, tecnologia e principalmente educação. E o resultado disto, é o que você e eu estamos vendo hoje.
Vitória tocou a mão na água do lago balançando a mão como uma criança que tenta fazer ondas na superficie da lâmina da´gua
- Ok Fabrício, essa parte eu ja estou cansada de saber. Mas os sulneanos onde entram nesta historia?
- Bem até onde eu sei os sulneanos foram as vítimas dos resíduos atômicos e biológicos que de alguma forma sobreviveram. Mas, o que tudo indica é que mutações ocorridas no material genético deles o levaram a formação de uma nova espécie... lógico que ainda existem muitas suposições sobre o assunto... há pouca literatura sobre isto. O pouco que li, já que este tema não faz parte da minha especialidade, é que boa parte deles são oriundos da America do sul, talvez por isto do nome, os dados fazem uma estimativa que 90% deles vieram de uma região denominada de Bacia do Guarani, mas especificamente de um pantano chamado na época de Pantanal Matograssense. O que parece que aconteceu é que esta região pertencia a um país – conhecido como Brasil, que se manteve neutro boa parte da guerra, tanto que o primeiro ciclo de bombas atômicas não o atingiu. Posteriormente com a evolução do holocausto é que a população do Brasil começou a ser dizimada. Não se sabe muito bem o que aconteceu mas os indícios mostram que uma parte da população da região do Pantanal, por algum motivo sofreu apenas leve incidência radioativa e que uma cepa diferente do MT1, muito menos letal, é que entrou em contato com essa população.
Quando a guerra terminou as águas contaminadas do Pantanal contribuíram para o isolamento geográfico desde povo, e os nossos cientistas acreditam que surpreendentemente em apenas 90 anos este povo deu origem há uma nova espécie.
- é Fabrício, só que nós dois sabemos que no curso genética apenas mutações pequenas podem trazer benefícios para o indivíduo, mutações grandes geralmente são letais, e para se formar uma nova espécie é necessário um acumulo de mutações pequenas ao logo de um isolamento geográfico de grande período, milhões de anos. Como em tão pouco tempo eles poderiam gerar uma nova espécie?. Isto é impossível!
- bem, no inicio, os cientistas também pensaram assim, só que com estudos de alguns sulneanos capturados nos campos de minério da Floresta Obscura Oriental foi possível concluir que as as radiações que eles sofreram apenas foi o suficiente para facilitar a ação desta variante do vírus MT1, que incrivelmente atuou em mudanças de bases do DNA como um relógio programado, mudando apenas o necessário para que as mutações ocorressem. A pele manchada e bronzeada serviram para os camuflarem no ambiente, os protegendo também dos raios ultra-violetas. Além disto estudos em suas mio-fibras sugerem que eles sejam mais rápidos e mais fortes que nós. Mas aparentemente possuem um instinto primitivo de sobrevivência: alimentar, reproduzir , defender. O neocortex deles é hipo-desenvolvido.
- Engraçado, a biogeneticista aqui sou eu, e eu nunca tive acesso a essas informações. Disse Vitória com um tom de surpresa.
- Nem poderia. Apenas tive acesso a essas informações porque um colega meu está fazendo especialização no modo de vida dos sulnenanos, e de alguma forma teve acesso aos arquivos secretos do Instituto Nacional de Segurança e Pesquisa (INSeP).
- é serio?! E como é o nome dele?
- Steven. Steven Salles. Ele passa o dia todo na universidade. No setor de arquivologia.
- ótimo, assim podemos tirar mais algumas informações dele. Existe algo que não se encaixa. Olhe, como um ser tão ignóbil, como julgamos ser, entrou em Marximus? - a cidade inviolável ! Outra coisa, se eles são tão fortes, como se deixou capturar tão rápido? E como pode existir uma cepa que atacou apenas uma população? e, ainda mais complicado que isso, como pode ela provocar com precisão cirúrgica mutações que geraram uma nova especie?
- Humf! Vitória a biogeneticista aqui é você! e se você diz que há algo estranho, então temos mesmo que conversar com Steven, mas de qualquer maneira acredito mais que o que você viu foi um delinqüente fantasiado de sulneano do que um espécime original.
- Eu sei o que vi Fabrício e nao foi ilusão. Vamos levar o barco até o cais... vamos para a universidade. Há verdades que ainda quero descobrir.