Intrusa

                                                           
Que branquela é aquela
Que sobe a ladeira do morro?
Olhas atenta o meu povo
Acaso não sabes
Que daqui sou dono?
Sou rei!

Um sorriso meloso
Meloso e safado
No gingado das pernas
Bumbum durinho e cerrado
Tão belo
Quanto o mais belo que sei.

Ô branquela!
Enxerga que tu é intrusa.
Se enciúma as mulatas
Que  cobres as vielas
Não tens os fulgores das vagabundas
Nem os mistérios das donzelas
O que queres branquela
Com estas formas serenas?

Sinuosos seios pontudos,
Que brincam no sabor do andar
Largo quadril carnudo
Ah se faz qualquer negro parar.
 Ei branquela!
Deixa meu mundo
Desce  meu morro
E deixa meu povo
Acaso  não sabes que daqui sou dono?
Sou rei!

Eta branquela danada!
Quer   o lugar das  morenas.

Uma lição


Uma lição
Na vida,
 Lutai filho
 Lutai sempre!
 Com fervor
 Com garra
 Mais principalmente com ira!
 A batalha , vos digo,
É a prisão dos fracos
 Ms  para os bravos
 É a essência da verdadeira gloria
Mas, ô filho
 Nunca lutais por amor,
 Não há vitoriosos  nesta  pugna
 Só derrotados,
 Uma  luta eterna... e vã
 Neste prélio a veracidade única que se tem,
 É que não tem-se veracidade alguma
 Um fraco é antes de um bravo um tolo,

 E ambos estão fadado a derrota e as lágrimas
 Do amor
 Fujais filho,
 Fujais sempre!

Seria cômico se não fosse trágico


SERIA CÔMICO SE NÃO FOSSE TRÁGICO


Vejam esta reportagem da Isto é  sobre o caso do Metrô  de Salvador

PIADA PRONTA

O metrô de Salvador é o mais lento do mundo. Mas isso não tem graça: ele já custou R$ 1 bilhão e não funciona

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O menor e mais caro metrô do mundo está na Bahia. Com apenas 6,5 quilômetros de extensão e custo total de R$ 1 bilhão, ganhou dos baianos indignados o singelo apelido de “autorama”. Só que não funciona. A construção do metrô de Salvador arrasta-se há uma década, o que também situa a obra entre as mais longas do gênero. É, sem dúvida, a síntese do que há de pior na administração pública brasileira: corrupção, burocracia, incompetência e descaso com o cidadão. O projeto inicial previa 41 quilômetros, só que o investimento foi todo  consumido no primeiro trecho, que deveria ser de 12 quilômetros, mas foi reduzido à metade. Para agravar, um estudo de viabilidade econômica do projeto mostra que, para cobrir os custos de operação, o bilhete do metrô poderá custar entre R$ 10 e R$ 15, seis vezes o preço em São Paulo. Chegou-se à conclusão de que o metrô não se sustenta economicamente, terá de ser subsidiado. É muito curto e ainda por cima foi construído numa área que é bem coberta por outros transportes públicos. Hoje comandada pelo PMDB, a Companhia de Transporte de Salvador (CTS), que acompanha o andamento das obras, culpa a administração anterior pelo imbróglio. “Tudo começou na licitação feita pelo prefeito Antonio Imbassahy (PSDB)”, diz o diretor da CTS, Hebert Motta.
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De fato, foi Imbassahy (1997-2005) quem abriu a concorrência para a construção do metrô em 1999. O exprefeito garantiu à ISTOÉ que todo o processo transcorreu “dentro da lei”. Entretanto, o TCU já determinou a retenção cautelar de R$ 50,5 milhões após encontrar irregularidades na obra e a Corregedoria-Geral da nião finaliza auditoria sobre os preços praticados pelo Consórcio Metrosal. Mais grave: a Justiça Federal da Bahia aceitou denúncia do Ministério Público por suspeita de formação de quadrilha, cartel e fraude na licitação. Foram acusados sete dirigentes das empresas que participaram da concorrência: dois da Camargo Corrêa e dois da Andrade Gutierrez, integrantes do consórcio Metrosal, além de três dirigentes da construtora italiana Impregilo, do consórcio Cigla. Segundo o MPF, as empresas atuaram em conluio. As companhias negam a acusação. Na quarta-feira 16, os procuradores baianos conseguiram uma ajuda extra do MPF em São Paulo, que lhes enviou documentos contendo novos elementos que podem confirmar os indícios de fraude e superfaturamento no metrô baiano. A papelada faz parte do inquérito da Operação Castelo de Areia, que apura o pagamento de propina a políticos e agentes públicos em dezenas de empreendimentos pelo País. Um dos acusados na denúncia em Salvador é o engenheiro Pietro Bianchi, que também é denunciado na Operação Castelo de Areia. Pelo visto, o buraco do metrô de Salvador é muito mais profundo

Memórias do Cárcere Obstétrico - Dados Tecnicos


Memórias do Cárcere Obstétrico

Por Helton Ojuara

 

Tudo na vida é história
e não existe uma  história ruim,
qualquer história  é emocionante,
desde que bem contada.
­­



São fatos:

 - A Maternidade Climério de Oliveira  foi criada em outubro de 1910

 - Foi a primeira maternidade -escola do Brasil

 - Os internos de medicina passam  dois meses e meio entre suas paredes

 - Espíritos vagam a noite enquanto alguns dormem, quer você acredite, quer não.


Dados técnicos *
 * para aqueles que  não são  da área de saúde

 - A Cardiotocografia estuda a biofísica do feto, permitindo avaliar o bem-estar fetal. O exame é realizado por um aparelho chamado cardiotocógrafo, e nele são registrados os batimentos cardíacos do feto,  sua movimentação e a contração uterina. O resultado do exame é semelhante a um traçado de eletrocardiograma, e com ele, o médico pode avaliar se o feto tem insuficiência na oxigenação cerebral por motivos placentários, posicionais ou compressões do cordão umbilical, como por exemplo a circular cervical.

 - Doença Hipertensiva Específica da Gestação ( D. H. E. G. )
É uma doença caracterizada pelo aumento da pressão arterial durante a gravidez e  urina com proteínas. Causando riscos para a mãe e para o concepto.

 - Segundo o Ministério da Saúde, caracteriza-se gestação prolongada, também conhecida como pós-datismo,  é aquela cuja idade encontra-se entre 40 e 42 semanas. Gravidez pós-termo é aquela que ultrapassa 42 semanas.

- A curetagem uterina é um procedimento médico realizado em unidade hospitalar, sob anestesia geral ou locorregional, que objetiva retirar material placentário ou endometrial da cavidade uterina por um instrumento denominado cureta. Tem como função principal limpar os restos do aborto

- O Ambu é uma bomba manual, normalmente acoplada a uma máscara, cujo uso mais comum é na ventilação em momentos de emergência, ou quando a pessoa encontra-se desacordada.
* para aqueles que  não são  da área de saúde

Memórias do Cárcere Obstétrico - Prólogo



Prólogo

 - Vai minha filha  empurre! Empurre!
E os gritos  de uma mulher ecoam pela noite.

Salvador,Nazaré, Maternidade Climério de Oliveira,
Sexta feira,  noite.
Sala de parto.

Salvador pode ser vista de várias formas, mas a melhor delas é à noite, quando a  lua brilha alto. Iluminando a Bahia de todos os santos,   as ruas escuras e o leito das mulheres que amam  ou que  estão a parir.
A Maternidade Climério de Oliveira é um prédio antigo, situado em um bairro antigo.  Á noite seu estacionamento  quase sem carros, silencioso e aparentemente desértico, esconde o desespero  e os gritos das mulheres que se encontram  dentro de suas paredes.

- Pare de gritar e empurre esse bebê! O plantonista diz alto enquanto  analisa se a criança terá passagem pelo canal vaginal da mulher.

Ela grita, o ar foge de seus pulmões quase sem querer. Ele sabe que para o bebê nascer ela terá que prender a respiração e fazer força. Mas saber e executar aquilo que se sabe são duas coisas diferentes.  A dor  do parto é lancinante.  Ela sente-se como se estivesse sendo   rasgada por dentro e   somente ao  longe  ouve a voz do plantonista.

- Mulher, se você não fizer força essa criança não vai nascer.   Escute, no próximo push quero que você empurre. Faça força de fazer cocô, certo? Vamos,  ele não pode mais ficar onde está, vamos, foooorça!

 A mulher sente a dor vim, e com  a dor  a contração vigorosa do útero que empurra o bebê  em direção ao canal do parto.  Ela segura firme nas barras laterais da maca  e  tenta buscar forças de onde não existe mais.  Eu apenas observo tudo. Eu, todo paramentado para o parto: gorro, máscara, capa.  Com  a compressa na mão tentando proteger o períneo da mulher. Ela é gorda, forte, com pernas  enormes, seu períneo cortaria o oceano atlântico de tão grande. Na posição de litotomia de fleury, deitada com as pernas para cima   e  sendo multigesta  este parto não deveria está tão difícil.
            De repente algo sai pela vagina da mulher, um liquido escuro,  em grumos escuros. Mecônio?  Cristo. O plantonista   arregala os olhos. Sofrimento fetal grave. Muito grave.  Agir é mandatório.

- Mulher, por Deus, você vai colocar esse menino para fora agora.

O plantonista  coloca a mão sobre o abdômen da mulher e no momento que ela faz força ele  ajuda com um empurrão vigoroso. A criança coroa fortemente pela vagina da mulher e é expulso quase como um vômito em jato bem em cima  dos meus braços.

- Pequei! Disse  no  susto. 

 Senti o Recém-nascido (RN) diferente do habitual.  Totalmente  arroxeada, cianótica.   A pálpebra esquerda  lacerada.  O menino estava rígido  como um cadáver. O plantonista olha, segura na mão do bebê.

rigor mortis, está morto.  Nada a se fazer.  Preenche o atestado de óbito pra mim.  Ele Tira a luva, a máscara e sai da sala de parto.

Eu com a criança  no colo.  A mãe chorava copiosamente. Penso no que dizer. Mas não sei, nessas horas nunca sei o que dizer... Então sinto algo mexer em meus braços. O menino  segurou firme a minha mão.  Chamo o plantonista. Inacreditável! Olho  o bebê que  estranhamento parece rir. Dentes, recém-nascido com dentes?  Eu fico paralisado  sem acreditar. Ele abre os olhos pequenos,  escuros e morde meu braço.  A dor   e o susto me fazem solta-lo ao chão.  Apenas tenho tempo de ver os olhos de tristeza   da mãe, a boca do menino que sorri  no chão, ainda com meu sangue entre seus dentes  e algumas  marcas estranha em meu braço,   antes de abri os olhos e acordar em meio a escuridão.

Memórias do Cárcere Obstétrico - Capítulo 3


Capítulo  3
            Um  doze romano, algo que parece um estetoscópio, uma cruz dentro de um círculo. E o que isso quer dizer?  Talvez não queira dizer nada. As paredes da Climério, principalmente do quarto dos internos  são bastantes rabiscadas de canetas, lápis, pincel de quadro branco. Uma  memória  dos internos que já passaram pela maternidade.  Alguns depoimentos são idiotas, outros interessantes. Houve épocas que  as escritas nas paredes  eram  uma distração  para os que estavam presos de plantão , mas com o tempo  havia tantas  e tantas coisas escritas, que o quarto se transformou em  um quadro  de arte moderna – poluição visual pura.  Mas havia no quartos dois depoimentos que chamavam-me a atenção. Um ficava  em baixo do lastro de cima de uma das beliches e dizia:  “a morte é o descanso da vida para aqueles que não sabem viver”.  O outro  falava, nada poético, nada profundo, nada muito inteligente, mas  com um significado  que só um interno saberia decifrar:  “gente, gente , gente englobei a residente”. Eu avisei, nada muito  profundo ou poético,  mas  como diria um amigo meu, como a mente humana é complexa, há coisas que não é possível decifrar , apenas vivenciá-la.  Eu mesmo já tinha sido “englobado” pela Residente uma, duas vezes. Miserável.   Gestante pronta para pari, eu  já todo paramentado, os dedos coçando, só esperando o  recém-nascido, quando chega a Residente com um sorriso amarelo na cara. E faz todo o parto. Completamente.  Lá vai mais um interno saindo da sala de parto sem nem  sujar as luvas. Paciência.  Oh palavrinha sem jeito.   Pois bem, o  mais provável é que eu já tenha visto estás marcas antes, mesmo sem prestar atenção muito nelas. E  com diria Freud, o meu inconsciente apenas sublimou a sua existência  no  pesadelo... Foi isso. Com certeza. Não há outra explicação...

Tocô- toco -  tocõ

O  Maldito som da cardiotoco  novamente.  Fui o mais rápido que pude até o pré-parto. O som continuava. Olhei o cardiotocógrafo, desligado, tudo calmo, nada fora do lugar. Ou quase nada. A técnica não estava  mais dormindo na  cadeira. Tinha sumido. Ou apenas tinha indo no banheiro. Nestas horas a nossa mente faz conjecturas absurdas. É preciso concentrar. O som parecia vim da sala da televisão,  caminhei até lá,  tudo  como antes, os técnicos espalhados pelo sofá, a sala escura. Não totalmente.   Na sala de televisão havia uma porta que dava acesso a sala do computador. Uma sala pequena, confortável, com sofá,  uma mesa, cadeiras  e, por assim dizer, um computador.   A luz escapava pelas frestas da porta.   Andei em sua direção e a cada passo o som da carditotoco ficava mais alto. Toco-toco-toCO-TOCO. Nunca, sob nenhuma hipótese o cardiotocógrafo estaria na sala de computador,  seja o que fosse que estivesse fazendo o som , certamente não estaria dentro daquilo que   considero como  “ tecnicamente normal”.  Segurei firme a maçaneta da porta, o medo me fez parar, poderia simplesmente desistir agora,   não abriria a porta, voltaria para minha cama,  acordaria amanhã e evoluiria os meus pacientes na enfermaria.  Perfeito. Seria um CO normal, como outro qualquer. Hesitei por alguns instantes. Dane-se. Abri a porta. 
...A sala estava  parcialmente iluminada,  a luz vinha do computador que estava ligado. Na tela do computador  apareceu um traçado característico. O   traçado do cardiotocógrafo, com uma linha de base  em oitenta bpm. O normal nunca era menos que  cento e vinte. Depois os símbolos apareceram na tela  por alguns segundos. Por fim,  um rosto de um bebê com a pálpebra  esquerda lacerada. A tela ficou toda branca e o computador  desligou. O som  finalmente desapareceu.

Memórias do Cárcere Obstétrico - Capítulo 6


               
Capítulo6


Prover calor, posicionar a cabeça,  aspirar secar,  estimular ,  reposicionar e reavaliar.  Gostaria que  essa fosse a única etapa do algoritmo de reanimação do RN, mas infelizmente não era. O bebe nasceu , sem respirar, mergulhado em mecônio.  O plantonista já tinha checado os batimentos fetais, menor que sessenta, bem menor. Ele já tinha oferecido oxigênio inalatório, mas  o RN continuava cianótico , sem mudança.    O plantonista aspirava pela boca do nenê o máximo de mecônio que podia. A impressão que dava que ele tinha engolido todo o mecônio do mundo.

-Pegue o ambu. Monte.  Ele disse isto,   enquanto uma das mãos já procurava algo na bancada de medicamentos.

 Montar o  ambu? Não lembrava muito como fazia isto. Apenas tinha visto algo nas aulas de neanatologia.   Mas o  cérebro  humano é uma maquina operante, e eu, sabe Deus como, montei .e lá estávamos nós oferecendo  ventilação positiva para o bebê. Trinta segundos depois ele  ainda tinha  freqüência menor que sessenta.  A esta altura dos acontecimentos, a sala já estava cheia de gente,  enfermeiros, técnicos de enfermagem, os internos. Nada do neonatologista. 

- Onde esta o neonatologista?- berrou o plantonista.

A preocupação dele  era que o bebê necessitava entubar. E convenhamos sem treinamento não há eficiência. Teríamos que nos virar com o ambu mesmo. O plantonista começou a fazer a reanimação cardíaca do RN, ao contrário dos adultos, no RN freqüência cardíaca menor que 60 e persistência da cianose, a massagem era  mandatória. Mais trinta segundos. O tempo agora, era o inimigo.  Nem eu sei se respirava  mais. Tudo se processava  ora  ultra rápido, ora  super lento.

- Adrenalina, me dêem  adrenalina.  Disse o  plantonista olhando para as  técnicas de enfermagem.
-Doutor, olhe,  olhe... Disse eu  apontando para o bebê,  que  começava a chorar,  ainda engasgado,  mas chorando. 

A cianose indo embora. Houve uma euforia e uma comoção geral na sala.  Alguns gritavam  emocionados isso, isso!, Algumas internas choravam. Eu apenas  mantinha  a oxigenação do bebê. Minha vista nublada por lagrimas. O plantonista soltou um sorriso preso.

- Conseguimos.

 Mais alguns instantes, o neonatologista chegou e a rotina do parto pode continuar.  Eu olhava para o bebê, as mãos  enrugadas,  o choro ainda um pouco abafado. A pálpebra do olho esquerdo normal. Sem lacerações. Era um menino.  A mãe olhava, com um olhar de felicidade. Estava exausta mais feliz. Muitas coisas não foram normais esta noite.  E que bom que não foram.








Memórias do Cárcere Obstétrico - Epílogo

Epílogo

O sol  já tentava preguiçosamente aparecer no horizonte. Alguns raios de luz deixavam o céu meio cinza. Assim como o banco em frente  ao estacionamento, próximo à admissão. Fiquei sentado lá esperando o dia  acordar, calmamente, olhando o monumento de bronze que mostrava a face do Dr. Climério de Oliveira.  Pensei  no boato que diz que a  Maternidade era assombrada pelo espírito dele.  O velhinho acordava  e perseguia  os internos pela  maternidade. De qualquer sorte, se ele  viesse  assombrar os corredores da maternidade, hoje,  com certeza  eu o agradeceria. Afinal, graças a  maternidade que ele ajudou a erguer,  eu  construir lembranças que jamais esqueceria. 
            Já estava quase  levantando-me quando a residente apareceu na porta. O rosto inchado de sono.

- O que foi que perdi? Ouvi uns gritos, algo parecido. Estava com tanto sono... Disse ela com a voz ainda rouca.
- Um parto.  Um daqueles.
-  Pooooxa. Porque ninguém me acordou. Gostaria de ter feito.
- Que pena.  Levantei do banco.  Peguei no ombro dela.   Olhei para ela com um olhar de consolação e com um  sorriso querendo escapar pelo canto da boca

– foi o melhor que já fiz.

“Gente, gente, gente  englobei a residente”

Adentrei pelo pré-parto e fui até a admissão.  A emergência já começava a encher de gestantes.  Lá, uma grávida  com  uma  face de   dor e  uma ficha de atendimento na mão,  pronta para ser atendida.  Abri a porta da emergência. A Climério não para.  Nem nós. Nunca.

- Próxima.


Capítulo-8 - A Consulta: No Divã da Loucura


Capítulo 8


Rio de Janeiro, 1974,
Bombas e morteiros para todos os lados.
O Brasil em estado de sítio.

  Qualquer grupo de pessoas na rua, por menor que fosse, era altamente reprimido pelos milicos, acunha dada aos militares da época. Mas para tudo havia uma estratégia. Os livros com conteúdos Marxistas, considerada literatura demoníaca, já que os comunistas caminham em caldeirões ferventes as criançinhas,  tinham que ser  altamente escondidos. Geralmente eram enterrados no fundo de casa, ou em alcovas secretas pela cidade. Os próprios encontros  entre pessoas de um grupo comunista com outro tinham que ser extremamente arquitetados.
            Era noite de uma lua cheia quando o Professor, naquela época,  ainda candidato de psiquiatria  e interno do sexto ano de medicina, estava suando embaixo do cachecol. Um cachecol vermelho enrolado ao redor  do pescoço , embaixo de uma luz  de poste em plena  Praia do Flamengo- este era o sinal.  Era tudo o que ele precisava saber para que alguém do outro grupo  para-militar comunista entrasse  em contato com ele. Saber nomes era  perigoso demais. Trinta  minutos era o tempo Maximo para a espera. Trinta. A brisa do mar soprava forte. As ondas mergulhavam calmamente na areia. Noite bonita. Mas naquele momento  não haveria tempo para contemplações.
O Professor olhou o relógio. Já se tinha passado vinte e oito minutos. Merda. Merda. Queria ir embora. Já havia se arrependido.  Se em trinta minutos ninguém aparecesse a regra era:  desapareça. O plano foi descoberto. Não Tenho dúvidas. Vinte e nove minutos. Merda. Merda.  Agora a  sensação de arrependimento já era maior que o desejo de  que alguém surgisse. Iria fugir para Belo Horizonte. Tinha uns parentes lá, ficaria lá por alguns meses, até  a poeira baixar. Tinha um pai promotor. Isto com certeza o ajudaria.  Mas o meu colega?. Uma preocupação súbita  lhe surgiu.  Como interno de medicina  não poderia abandonar o plantão. Então teve que deixar um colega no seu lugar.  Idiota. Idiota.  Certamente  os milicos apareceriam lá,  perguntariam:

-  Cadê o comuna? .Cacetetes e armas empunhadas  
- Que comuna?  . Diria alguém de  jaleco branco.
-Quem tá de plantão aqui? Já sabemos de tudo.  

O colega ingenuamente  tentaria se explicar,  levaria duas bordoadas na cara, mãos para trás com  pulseira de aço e  empurrão para dentro do camburão.  Se tivesse sorte apanharia só um pouco,  um nariz quebrado, alguns hematomas pelo corpo, só para não perder o costume.  Como não sabia de nada mesmo, depois de uns três dias de tortura física e psicológica, estaria livre. Se tivesse sorte. Idiota. Idiota.  Trinta minutos. Dane-se. Em segundos, ninguém mais se encontrava junto ao poste. Apenas um cachecol vermelho abandonado ao chão. 
A lua brilhava solitária e grandiosa no céu. O professor já estava longe da praia,  nem  viu  quando uma viatura dos  milicos parou junto ao poste e pegou  um cachecol. Na ponta do cachecol  vermelho as iniciais do nome e sobre nome do professor em azul.  Merda. Merda. 

Acredito que o mundo pode ser um lugar melhor


Acredito que o mundo pode ser um lugar melhor
Se lutarmos por isto. Acredito que, para que ocorram mudanças reais,
É necessário que o preconceito,
A desigualdade e a exclusão social diminuam de forma significativa
( acabar com a desigualdade é um sonho que não chego a acreditar).
Acredito que todos somos responsáveis por tudo que acontece no planeta
( ondas de violência, efeito estufa , guerras etc. Etc. Etc.)
E que de forma egoísta e burra ficamos em nossas casas sentados na frente do computador ou da televisão e não fazemos nada - porque?
Porque  simplesmente achamos que o MUNDO
Gira em uma órbita elíptica entorno do nosso
Umbigo e por isto não nos atinge.

Acredito que se não fizermos nada
Continuaremos a acreditar que um belo dia alguém fará alguma coisa.
E esse ser iluminado por livre e espontânea vontade ou, ainda, por inspiração divina
- assim como Jesus Cristo –
Nos tirará do pecado, acabando com a violência ,
Com a criminalidade, com a miséria, com a fome,
Com o preconceito, com as guerras,
Com o desmatamento, com a poluição,
Com a exploração sexual de crianças,
Com tráfico de mulheres e de drogas,
Com os meninos de rua. Enfim, com tudo aquilo que é de nossa responsabilidade e que quase sempre viramos o rosto e fingimos que não é com a gente.
E por fim, acredito que se você leu até o final,
É porque não faz parte da nata da burguesia burra que mal ler,
Mal usa o que ler e que ainda luta, geração pós geração,
Para manter este sistema socioeconômico ( corrupto,
Injusto, e centralizador). Ora colega,
Se você leu... É porque, quem sabe, ainda resta,
Em algum lugar, ESPERANÇA.

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