Meu Coração de Pedra


Não se engane
 Hoje olhei- me  no espelho 
das poças da chuva formada no chão
E retirei de dentro de mim
 Aquilo que incomoda tanto os homens
 E quando segurei nas mãos
 Pasmo constatei a obviedade

Tenho um coração de pedra

Mármore puro

Liso, frio e duro

Mas meu coração de pedra  
Pesa
 O peso maior do mundo
 Seguro   ele entre  as mãos 
como quem segura um martelo
 Com força ,  com firmeza com  tristeza

Meu coração de Pedra nao bate
Não esquenta
 Nem doi mais.
Está insensível  a própria vida
 Que vida?  
Não há vida - só pedra

Olho o céu e vejo nuvens pesadas
Carregadas de lágrimas?
Levanto  as mãos  e espero
Que ao cair da chuva 
As gotas de amores
Amoleça esse meu coração de pedra.

Helton Ojuara


Semana Santa !? pra quem?


Em Salvador a semana santa foi um inferno.  Sair da cidade para passar o FDS em outro lugar foi uma tarefa de gueirreiro. Olhe as fotos da Rodoviaria.... quase meia noite e meia e eu me sentia como se estivesse em pleno carnaval, no circuito Campo  Grande... affe! Pois é . Mas se nao basteasse isso, ainda sei que pegarei um engarrafamento cavernoso na volta. Que venha a Copa!!

Porque os poetas morreram? - Poesia



 
Porque os Poetas morreram?

O reógio lento na parede
ouço as gotas da chuva que cai na janela do quarto
lágrimas de um mundo vazio
alguns pensamento perdidos

Porque os poetas morreram?

Não é porque a morte é para todos?
e todos  se resume a tudo.
Bons e maus, velhos e novos,
realistas ou sonhadores,
romancistas ou poetas.
Não, não é por isso.

Os poetas morreram porque lutar cansa
Cansa no sentido mais fadigante da palavra
lutar.... lutar...lutar
Lutar  contra  os jovens que hoje ficam,
beijam,  transam mas não amam,
lutar contra a idéia constante  do ter
do desejar  do gozar  do largar
o amor é apenas uma  lembrança
de algo que existiu há muito tempo.

Porque os poetas morreram?

Porque antes o indubitável das rimas  era a estrela guia da alma.
Hoje as almas são vazias e  mergulhadas em álcool drogas e sexo
o que antes existia como hoje
possui menos sentido como  ontem.

 E assim os poetas morreram um a  um.
Como moscas bêbadas  que caem  em um bolo  doce e amargo
tão inúteis que ninguém deu por falta.
porque? porque para muitos, senão quase todos
As palavras são frutos sem graça, sem gosto e  vazios
e se não há mais sentido nas palavras
então quem acredita que há  ainda  sentido nos poetas?

Agora chove copiosamente la fora.
levanto a cabeça  quase triste o meu pensamento se encerra.

Descansem em paz,
pois esse mundo não mais os merecem.

Salvador Nua e Crua - Capítulo 2


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Linha Verde.  Noite.  Dentro de um poço em algum lugar  no litoral norte



          Antônio custava  a acreditar que estava lá. Jogado naquele poço. Jogado a própria  sorte.   Já havia gritado  tanto por ajuda que  nem tinha mais voz só Murmúrios.  O tempo passara rápido, e uma pequena parte da lua se mostrava pela luz do poço... Um nesga de luz que entrava  e deixava tudo dentro do poço meio cinza.  As pedras  cobertas de limo , a água escura e salobra.  Alguns objetos sem forma boiando, Indistinguíveis.  Sobre a água  exalava um mal cheiro insuportável. Que cheiro horrível.  Antônio somente se lembrava que  estava no lugar errado, na hora errada. Um mal entendido e pronto. Agora estava ali.  Lembrou que  ainda andou um bom pedaço dentro da mata. Encapuzado. Com as mãos amarradas. Os homens,  vez por outra, falavam que ele iria pro buraco. Nessa hora teve a certeza  que não fosse chegar vivo até  o cair da noite. Depois pararam, desamarram a sua  mão. Pensou em ficar em silêncio e sentir  a morte chegar  rapidamente através das balas. Mas não. Não era isso.  Disseram, “não era  pra ser você seu burro! não era você”. Deram um soco no seu estômago.  Antônio curvou o  corpo com a dor. O ar lhe faltou naquele momento.  Nem  recuperou-se  do golpe  e  o jogaram   para baixo dentro de um poço. Depois de um breve momento suspenso no ar, sentiu bater em algo , era água. Tirou o capuz e agora estava lá. Entregue a própria sorte. Ainda sentia a dor na barriga. Isso já faz  quase  duas horas minutos. Mais ainda o incomoda.   Se segurava o quanto podia dentro do poço mal cheiroso. As pedras eram escorregadias.  Conseguiu agarrasse  apenas em algo que  se parecia com  um cano. Existia  muitos dentro do poço, cada um em uma altura. Pegou  uma  manga  da camisa  e  escorou nesse cano. Isso o mantinha suspenso na água. A  idade não lhe permitiria se manter boiando tanto tempo. É verdade. Cinqüenta e sete anos e ali. Dentro do poço. Hora ou outra sentia que havia insetos ou algo parecido ali. Grunhindo,  passeando entre os canos,  sob as pedras da parede do poço.

     A lua  quase se fazia entrar . Mais algum tempo e ela faria uma  inclinação  perfeita com  o fundo do poço. Isso o ajudaria a visualizar melhor as coisas. Sempre passou a vida como um  coitado, bem verdade.  Não teve pai.  A mãe era  prostituta da ladeira do Taboão.  Morreu sifilítica  quanto ele tinha dez anos.  Antes de morrer disse a ele. Sobreviva.  Foi o que ele fez. Sobreviveu.   Com muito custo vendedor de balas, depois engraxate , sapateiro,  depois  vendedor de livros. Pronto, estava no topo, não podia ir mais longe... Arranjou  mulher , filhos uma casa no morro...mas a maldita da cachaça destruiu tudo. Oh vicio desgraçado!. Oh vicio sem jeito. Uma bebidinha ali, outra aqui... Quando foi ver  já estava viciado de dormi na rua. Perdeu tudo. Tentou lutar mas era fraco. Sempre foi. Nunca soube  levantar a cabeça, nunca soube dizer não.  Agora estava ali. Era injusto, não tinha feito nada. Se não tivesse aceitado a ajuda  de um estranho e vestido as roupas dele... Mas isso lá era motivo pra ta ali?!. Dentro de um poço mal cheiroso.

 A dor na barriga ainda o incomodava... Quase  duas horas hora depois e ainda o incomodava.  Passou a  mão sob a  barriga, a camisa estava estranhamente rasgada , passou o dedo pelo buraco e sentiu que havia  um rasgo na sua barriga, próximo a cicatriz umbilical. Os filhos da puta me furaram!?. O golpe na verdade teria sido uma punhalada. O apunhalaram e  o jogaram no poço. Covardes. A lua agora já quase jazia na lamina de água  do poço. A luz entrava agora  como uma flecha iluminado Antônio e todo o fundo.  O que era antes cinza escuro tornou-se cinza claro , talvez agora ele visse algo pra ser a salvação da sua vida, algo para o ajudar a sair daquela situação. Mas a luz que ilumina é a mesma que amaldiçoa.  O poço, não era poço, o poço era uma fossa. O que boiava sobre a água era restos de fezes. E os canos estavam repletos de dejetos . Que horror. Antonio se desesperou. Não iria morrer dentro de uma fossa. Ninguém nunca o acharia. Não merecia alquilo.    As lagrimas tomou os seus olhos , ele tentava  agarrar as pedras mas escorregava. Então tentou se apoiar nos canos mas  estes não aguentavam seu peso e quebravam antes que ele pudesse erguer o corpo da água. Então  a barriga doeu ainda mais. Uma dor fina, como uma adaga  cravada no abdômen. Ele colocou a mão  novamente  na barriga e quando  a trouxe de volta a visão percebeu que os dedos estavam cobertos sobre algo escuro. Sangue?!. Seu sangue que se esvaia. Como algo inútil. Perdido naquela fossa.  Então ele fechou os olhos, esconjurou os desgraçados que fizeram isso até a décima segunda geração deles. Miseráveis. Quando Antônio abriu os olhos  percebeu algo sobre a  água que   outrora a escuridão  ainda não tinha  lhe mostrado. Pior, na verdade não estava somente sobre a água, estava também  nas paredes, nos canos,  e cada vez se mostrava-se  em maior quantidade. Ratos,  Ratazanas. Tão grandes quanto os maiores que já viu quando dormia  nas ruas.  Estavam ali. Provavelmente se alimentavam dos dejetos da fossa.  E agora se amontoavam ali.  Era o Sangue. O sangue os atraiam. Cada vez  mais. Deviam estar famintos. Eles viviam  no meio do nada, se alimentando de fezes de um fosso antigo. Agora tinham alimento fresco.  Ele.  Ele.  Antônio sentiu seu desespero multiplicar. Começou a gritar  o Máximo que podia. A voz já se fazia ouvir. A mão correndo as paredes.  De repente sentiu como se algo tivesse mordido sua mão.  Desgraçado, desgraçado!  Antônio começou a gritar, clamar por ajuda cada vez mais alto. Então   um rato voou no pescoço.  Ele Pegou o famigerado  e o  atirou na parede. Mal deu tempo de fazer isto. Outro pulou na sua cabeça.  E outro e outro.  Dentro do poço grunhidos de dor e de desesperos brotavam.  La fora. A relva das plantas estava calma. A lua brilhava alto. Tudo  estava em concordância. Somente os gritos destoava... Mas não demorou muito...  Logo se vez ouvir  um silencio tenebroso.

Memória às crianças mortas no massacre de Realengo

   
É muito triste ver tantas  crianças  mortas... de forma tão  sem sentido. O que conforta-me é saber que o criminoso também morreu, afinal com leis tão obsoletas  era capaz do monstro estar em liberdade em  sete ou oito anos.
Que Deus conforte as famílias de todas as  crianças pois  o apoio humano infelizmente não é capaz.


Abraços ojuarianos

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