Capitulo- 6 : A Consulta: No divã da Loucura

 


“mesmo sem a cabeça as baratas ainda vivem uma semana”

Capítulo 6

Sei que estou louco doutor e é difícil admitir isto. Tudo o que  se planeja na vida  somente tem um sentido enquanto estamos em sã consciência.  E a única coisa que tenho certeza é que estou deitado neste divã em um quarto escuro depondo sobre a minha loucura. Não, não doutor, não precisa negar isto. É fato!  E contra fatos o que são os argumentos? Frutos vazios. Como posso ter visto viva uma pessoa  que morreu? É ou não é loucura? É ou não é? Sim doutor, diga... o que? Quer que eu fale sobre o Homem Morto. De novo? Tá, ta. Eu sei, é importante.  Importante...  para que? Isto não é importante para nada. Mas vou contribuir.  Ser louco tem seus ônus.
O que eu me lembro do Homem Morto? Me  lembro do seu  pé. Do seu pé gordo. Branco,   com  unhas por fazer. Pelo pé  é possível se conhecer uma pessoa. Sempre olho para os pés   quando falo com  as pessoas. Sempre. E ele tinha um pé  gordo.  Ou tinha distúrbio metabólico ou comia muito. Mas com certeza era sedentário. Noventa e nove por cento são sedentários. Pela idade, aparentava ter seus quarenta e cinco anos, já devia sentir dor nos joelhos, dormir de barriga para cima, e roncar. Não deveria fumar? Não, não  Doutor.  O senhor  já viu um gordo fumando?  Nunca vi, a não ser que seja charuto. Gordo gosta de charuto. As unhas por fazer  nos  dava o diagnostico do caso. Ou tinha esquizofrenia ou depressão. A loucura  é antípoda da  vaidade.  Se fosse uma pessoa sã eu diria que era pobre ou alguém que tem dinheiro  mas que teve uma infância pobre. A pobreza é uma cicatriz. Deixa marcas difíceis de apagar. Neste caso,  costumes difíceis de  esquecer.  Ter unhas por fazer  é apenas um destes costumes.
            Onde estou? Ora doutor! está discussão em capítulos me deixa irritado. Estou no HUPES, terceiro andar,  pavilhão psiquiátrico, cercado de colegas e entrevistando um paciente. Mania  psiquiátrica de ficar  perguntando a mesma coisa muitas vazes. Irritante! Pois bem,   sala de psiquiatria do HUPES  até que é humana. Como já falei, com desenhos nas paredes e coisa e tal. O calor de Salvador é que é desumano, pegajoso, nojento.  O dia já raiava por volta das 10 horas. O sol    lambia vorazmente as paredes na face externa  da sala e  ia cozinhando a banho-Maria o nosso juízo. O professor insistia em conversar com o Homem Morto. Eu nem me lembro como voltei para sala, há pouco estava com a Mulher de Preto e  agora já estou aqui. Relatividade temporal.  Agora também não importa mais. A loucura tem destas coisas. O detalhe vai tornando-se  insignificante, apenas detalhe.  Apesar de ter certeza de que estava em uma terça-feira, o calendário do  meu celular teimava em me dizer que era segunda-feira. Virei-me para o lado, Lobão estava perto. Grande amigo Lobão, sempre calmo, sempre  prestativo. As vezes o chamava de Lula. Sabe como é.  Não conheço muita gente que tem o apelido no nome. Lobão lá é nome que se dê a alguém?

 Ei Lobão,   esse cara  aí não te parece familiar? Com alguém de ontem...
-Alguém? ... -  Lobão torceu o nariz - Não que eu me lembre. E porque ontem? Não entendi.
- Ontem eu, você e  Cesarino não tínhamos vindo  juntos par o  HUPES?
- Ooontem?! Ontem foi domingo.

Domingo. Domingo. Domingo.  A voz de lobão ressoava em minha mente   como um bater de um sino de igreja. Minha vontade  era de sair  correndo daquela sala e esquecer tudo o que aconteceu. Mas o medo paralisa. O medo de não saber o que  está  acontecendo.  Esquecemos do corpo. Só nos sobra a mente. O que doutor? Se posso ver o Homem Morto? Posso. Ele estava há uns...três metros  de mim, sentado ao lado do professor. Baixo gordo, branco, careca, ele continuava a falar, com o rosto para baixo. Depressivo.  Falava. eu não o ouvia. Mas ele falava.  A voz de Lobão no meu cérebro – ontem foi domingo.   Eu agora já conseguia olhar para ele, fixamente. E Quando o Homem Morto  levantou a cabeça,  ele olhou direto em meus olhos. O tempo parou.
Era possível ver em câmera lenta o deslocamento de cada molécula de poeira entre   os raios de sol.  Dava para sentir a densidade do ar mudando, se deslocando em minha direção como ondas de um tsunami. Em instantes, nada  se mexia.  Até a luz se movia devagar. O único som que ouvia era a da minha respiração. Segurei na cadeira, surpreendentemente conseguia me movimentar.  Levantei-me. Dei dois passos. Olhei  ao redor. E quão foi a minha surpresa  ao descobrir  que eu ainda estava lá, sentado , na cadeira  que havia acabado de deixar. Tão  estático  quanto as outras pessoas  que estavam na sala. Um quadro em terceira dimensão. Nem Salvador Dali seria tão surreal. Foi naquele momento que descobri o real significado da palavra loucura.

Vem para Salvador, meu Rei.

Vem para salvador meu Rei.

Assim é o mapa que a mídia vende.



No Pelourinho, bem verdade,  há muitas coisas fotogênicas.
Porque bonito é uma questão de opinião.

     Por exemplo,  a Praça da Sé                                      




    A ladeira  do Taboão




     Tem o circo armado: a Capoeira                                                      

  
os tambores              
  

A Cruz Caída                                                              

Pça da Cruz caída - Pelourinho - Salvador - Bahia - Brasil

 De  noite então as igrejas ficam bem mais bonitas
      Pelourinho


Se você quiser comprar  quadros com alguma criatividade e com preços um pouco salgados ,
aqui também tem



Entretanto se você não quiser ver a verdade, melhor sair do blog
veja o mapa real do pelourinho
Cadê a graça?  prédios antigos em ruas apertadas



Se lembra daqueles prédios coloridos,  folclóricos? Bem, agora  pense em uma cidade onde  existe uma rua central toda arrumadinha e as restantes um  caos. Pois bem, é o Pelourinho.
O pelourinho é cercado por uma população pobre. Se o turista for um pouco mais atento irá ver ruas transversais com os seus moradores vivendo  na miséria.




Acredite a qualquer hora do dia tenho medo de andar no pelourinho.
a possibilidade de assalto é grande , apesar de haver alguma segurança policial.




No que se refere   a beleza histórica...  O pavimento do pelourinho em quase todas as  ruas  é irregualar. Portanto mulheres, nada de sapato alto.

.


Bonita vista frontal, onde é possível ver  a cidade alta e baixa,
 principalmente à noite. Entretanto...



Baía de Todos os Santos e no alto o bairro do Pelourinho

Quando a manhã  se faz presente....
Nada é mais tão bonito. Talvez exótico, diferente. Mas bonito?...




Nesta foto é possível ver
 a famosa Ladeira da Montanha





Se dermos uma olhadinha mais de perto... O que vemos são casas  que servem de prostíbulos...Atualmente um projeto de revitalização da Ladeira da Montanha está  se desenvolvendo. Espero que realmente dê certo.



Caso contratio o que o turista verá será tão lindas como esta.




Na praça Castro Alves , inicio do Pelourinho. .



É possível  pegar um cineminha no Glauber Rocha e comprar..


sandálias e  bolsas de couro



Mas tenha cuidado com assaltos e acidente automobilístico.
Já fui assaltado nesta área  duas vezes e já presenciei três atropelamentos.


Agora, o mais importante de tudo, se você encontrar essa figura -    uma pessoa com a mão cheia de fitinhas do senhor do bomfim -   com uma conversa mole de "seja bem vindo". Corra dele, ele irá   te aprisionar,  te amarrar com as fitinhas, e quando você se der conta, já estará preso, e terá que comprar algo na mão dele.



Vem para Salvador meu Rei,
agora não diz que não avisei.

Capítulo 5 - A consulta: no divâ da loucura


Capítulo 5

No sertão os rios que não são perenes secam no inverno.  A sala de psiquiatria do  HUPES estava em um silêncio  quase sobrenatural. Nada se movia. O professor e nós esperávamos uma reação da Mulher de Preto.  Mas nada.  Ela tinha balbuciado algo há  pouco. Depois de muita insistência  para que ela falasse. Chegou a levantar. Falou que sentia um cheiro de enxofre. Que  seu corpo fedia a enxofre.

-  passei quatro anos no inferno. Longos quatros anos. Cheio de caveiras. Meu pai era dono de um terreiro de candomblé. Era dono. Eu tinha que ser filha  de santo. Mas ele morreu.  Meu pai era tão lindo. Lá tinha  um monte de caveiras. Horrível. Ninguém deveria ir ao inferno.  Mas  o anjo Gabriel me salvou. Era alto, cabelos cacheados. Tinha uma panturrilha enorme.  Abriu a porta de outra dimensão e eu escapei... ele era lindo.

A mulher  de Preto  abriu um sorriso.  Depois ela se sentou e   as emoções se apagaram. Agora estávamos ali esperando algo mais.  Mas ela  estava seca.  Era apenas uma casca vazia. Sua  memória  vagava em  outro lugar, em outro tempo.
Nos dois anos que se seguiram, após o nascimento da filha,  foram os  mais nebulosos para a Mulher de Preto. Ela   voltou a  beber, voltou a  perder noites,  voltou a sentir uma dor profunda e sem sentido.  O marido não aquentou e pediu o divórcio, não só isso, pediu também a guarda da menina, o que não foi  difícil para o juiz  decidir  com quem ficaria a menina, afinal a mulher de preto não sabia nem cuidar dela mesmo.   O mundo desabou .
Os anos posteriores foram de poucas lembranças e de muitas lacunas.  Ela lembrava apenas que quando a menina  tinha quatro  anos ela fez uma ligação. Já há algum tempo estava proibida de falar  e de se aproximar da menina,  a não ser nos finais de semana.  O telefone toucou um vez.. duas... Não queria dizer  mas se não dissesse morreria. Uma   voz doce de uma criança diz  alô.

– oi meu amor, como vai meu bebê? você não quer ficar com a mãe não?. Quer? Eu preciso de  você, preciso muito, volte para mim. Diga a seu pai que quer ficar comigo, diga,  diga meu amor, diga senão eu...eu  vou me matar, prometo que vou , me mato hoje, ouviu meu bebê, ouviu meu anjo?.

Mas estas tentativas de  persuasão  não funcionaram,  até que movida  por uma força maior, por assim dizer,  ela começa  uma seqüência de tentativas de suicídio.  Como todos sabem as mulheres tentam mais suicídio, mais felizmente são mais incompetentes neste sentido.  E assim lá se vai uma, duas , três, quatro , cinco , seis...varias  tentativas.  A maioria tomando medicamentos em excesso,  outras ameaçando se jogar de um prédio. Todas tiveram como conclusão o internamento psiquiátrico. Quando a menina já tinha em torno de onze anos,  a Mulher de Preto cortou o próprio pulso,  quase morreu, isso foi a gota d´agua para que a menina decidisse  morar com  a mãe.

– tenho que  cuidar dela. Argumentou com o pai.

Os anos se passaram, as crises foram embora. A mulher de  preto  voltou a dá aula de ballet,  não bebia mais, não perdia mais noite. Porém o mundo é cruel, e  a cada dia vivido é um dia mais perto da morte. Em dezembro passado a filha, a então menina,  agora com 27 anos resolve se casar. Um casamento  simples  e rápido na capela de São Pedro.  Uma festa bonita. A Mulher de Preto sorria, bebia. O recém casal entrou  no carro e foram curtir a lua de mel. A Mulher de Preto voltou para casa sozinha.   Falou com o porteiro do prédio, um homem forte,  alto, de cabelos cacheados.  Que homem bonito, pensou.  Entrou no elevador,   apertou o botão do sétimo andar.  A luz do botão em volta do número sete se acendeu, ela se lembrou que tinha uma conta de luz para pagar, pegou a chave na bolsa,  o elevador parou,  três passos , e já estava na porta  do apartamento,  abriu.  Um ar quente  soprou, as suas sobrancelhas  caíram e ela  desde então  sentiu que nunca mais seria a  mesma.

- Pois é meus alunos é isso. Suspirou o professor  no inicio do seu discurso. - Com o nascimento da filha a Mulher de Preto transferiu  todo amor que sentia pelo pai   para a menina. Mas com a separação e a perda da guarda da criança,  foi como se tivesse perdido o pai pela segunda vez.  Desta forma não fica difícil entender porque ela está desta forma agora  que a filha casou-se.

Difícil de entender não é não, mas acreditar nisto já são outros quinhentos. Enquanto a discussão do caso se espalhava na sala eu observava a Mulher de Preto. Parecia que ela nem estava ali. Parecia que nem estava vendo a gente.   Uma nesga de luz conseguia passar pela fresta da janela  da ala psiquiátrica  e  raspar o  seu vestido preto Eu sentir que ela poderia passar o tempo que quisesse ali, sentada, parada,  com aquela pequena margem de luz  a aquecer seu corpo. Não importava muito se o lugar estava iluminado, quente ou frio. A mente da mulher de preto estava na escuridão. Viajando.  Ora era criança, o pai vivo, lindo e carinhoso, ora estava chegando no apartamento na Graça. Tinha acabado de casar a filha.  Abriu a porta e recebeu uma lufada de ar quente no rosto. Entrou.  A  sala estava abafada.  Tinha fechado tudo  antes de irem para a igreja.  Olhou o quarto da filha, um sentimento nostálgico lhe abateu. Respirou.  Tomou um banho, abriu o guarda-roupa, e pegou  um vestido.  Tinha vestido de todas as cores praticamente: Rosa, vermelho, prata, branco... mas preferiu o preto. Não que estivesse pensado isso, mas inconscientemente -  estava de luto. Foi dormir.
Mas assim como  Emilly Rose  às três da manhã  o sono da Mulher de Preto se evaporou,  abriu os olhos rapidamente.  Nem parecia que já dormia há três horas. Um calor infernal,  estava toda suada. Levantou, ligou a luz, foi na  cozinha. Bebeu três copos  de água gelada. Ainda estava calor.  Foi na sala. Abriu a janela do terraço. Nem um maldito vento entrou. Olhou o relógio digital. Três horas, Três horas, Três horas.  Piscava freneticamente em vermelho. Um barulho no quarto a fez tirar os olhos do relógio. Deu alguns passos, parou na  porta do  seu quarto. Olhou...  um porta-retrato estava caído. Se acreditasse no mal diria que um capetinha tinha derrubado-o,  mas  com certeza foi apenas um vento solitário que deve ter entrado pela janela.  Pegou o retrato.  Ela e a filha. Tão linda. Parecia com o avô.  Passou o dedo em cima da foto.  Uma dor fina no peito.  Os olhos rasos de água. Quase chorava.  Mas um novo barulho...  agora na sala -  maldita janela! Correu até  a sala, olhou  no chão,  mais retratos caídos.  Fechou a janela.   Andou  até  os retratos caídos. Abaixou-se .  Ia resmungar algo quando um cheiro característico lhe cortou o nariz. Cheiro  de algo que somente sentira  quando estava no ginásio, no laboratório de química. Um cheiro nem doce, nem salgado, nem azedo, nem básico. Um cheiro de enxofre.  Enxofre?   Enxofre?! Alguma coisa cai na cozinha,  depois no seu quarto.  O medo sobe  pelas suas pernas e a congela. Pode não ser nada  mas pode ser algo na duvida?  Fuja!. Correu até  a porta da  sala.  Sua mão escorregava na maçaneta,  rápido,  rápido, rápido!.  Sentiu um vulto crescer em suas costas, e quando abriu a porta da sala já era tarde demais. Agora Havia apenas escuridão.

Capítulo-4 - A Consulta: No Divã da Loucura


Capítulo 4
            A mulher  de Preto  viaja em suas memórias. Ela se ver adolescente,  entra no quarto escuro e abafado do irmão. Inúmeras fotos de  mulheres nuas  e roqueiras coladas na parede.   O irmão deitado largado na cama,  olhando para o nada.
- Maninha...não sei o que você está fazendo aqui, mas aproveite e me dê este cigarro, ta aí em cima  da mesa.   
Ela vai em direção do irmão e   arranca o copo de bebida da mão  dele.
- Que merda!  Você só quer essa vida .,  álcool , cigarro e pó,  que isso! Essa é a vida que você quer para você.  Breve receberemos a herança de pap...
- Eu to cagando e andando para a herança de papai. Disse ele levantando da cama. Pegando o copo da mão dela, indo  até a mesinha   do quarto e enchendo  o  copo com um whisky vagabundo
            A  Adolescente de  Preto senti uma raiva incontrolável crescer em seu peito. Por alguns instantes ela é tomada de um instinto protetor.  Gostaria de protegê-lo, gostaria de não se sentir mais sozinha. Ela caminha até o irmão e derruba o copo com um tapa. 
– Eu já disse que não quero você bebendo!
         Ele a segura pelo ombro e a empurra contra a parede.
- Quem você ta pensado que é.  Se liga.  Papai está morto, mamãe está morta! ninguém manda em mim. Alias... eu também estou morto, maninha.  Sua mentira condenou a todos. . Eu deveria ter morrido com eles.  Você não tinha o direito de ter me tirado isso...  Você também está morta para mim. Vê se me esquece. Deixe-me morrer em paz.  Saia do quarto.  Saaaia!.
E ela sai com os olhos  nadando em lágrimas.
            As memórias são naves do tempo e viajam em uma velocidade fantástica, pousando em uma outra fase da vida. Já adulta a Mulher de Preto encontra a arte,  monta uma Escola de ballet com a herança que recebeu.  Freqüenta também a Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia. Resolve fazer  teatro.  Conhece outras cidades.  Mas uma das mais importantes talvez tenha sido o rio de janeiro. 
Copacabana, nove da noite. 
Um  ar boêmio na praia.  A Mulher de Preto  e mais duas colegas resolvem andar um pouco,  sentir  a textura da areia, a brisa noturna que sopra  em direção ao mar.  Pegam um violão convidam mais algumas pessoas e decidem fazer um Lual.
Lá pelas onze horas  da noite já havia se formado  uma roda improvisada na praia   com uma  fogueira artificial, daquelas com  luzes no lugar do fogo. No ambiente algumas mulheres, alguns homens. Tudo está úmido e regado a bebida e música de violão mal tocado.  A Mulher de Preto vê alguém que a chama a atenção. É um homem, sorriso doce, fraternal, lembrava o sorriso do seu pai.  Ele encosta-se nela,  pergunta o seu nome.  Ela responde  de forma clara e meiga - nada de nomes hoje,  somente nossos espíritos irão falar.  Ela lembrou que curiosamente vestia branco nesta noite, tomou mais um gole de bebida e  depois o beijou como nunca havia beijado outro homem.  Aquele  seria  o inicio de dois longos anos juntos.
            A mulher de preto  se casou- relacionamento difícil. Ela tem dificuldade de manter uma relação amigável  e duradoura com  qualquer pessoa, seja com o homem a ama,   ou com qualquer outra pessoa. As coisas andam difícil, muitas brigas,  os dois estavam morando na casa da família dele. Certo dia  depois de mais uma noite de porre dela, ele levanta da cama dizendo que ela precisava arranjar uma a ocupação, que  essa vida de boemia já estava  indo longe demais.  A mulher de preto nem dá atenção, levanta ruidosamente  se olha no espelho – está um trapo.  Vai ate o banheiro,   pega uma caixinha que estava sobre  o lavatório.  – a moça da farmácia falou que era bom. Estava com a menstruação atrasada  há mais de um Mês.  Poderia não ser nada. Reflexo das varia noites perdidas. Mas o que é que custa não é mesmo?.  Urinou num frasco e colocou uma fita de  papel dentro.   Cinco  minutos depois  havia  na fita   uma linha azul e outra vermelha.  Sua visão escureceu e ela caiu  no banheiro  desmaiada.  -  estava grávida.
            A gravidez  mudou a sua vida . Era outra mulher. Alimentava–se bem,  andava todo dia pela manhã para manter a forma, não perdia mais noite.  Uma   vez ou  outra  uma dor profunda lhe acometia a alma.  Não sabia dizer  o porque .  Então ela   acariciava a barriga, sabia que sue nenê  estava ali e uma paz lhe preenchia o espírito. Quando a barriga já se fazia vistosa com seus oito meses e meio de gestação uma dor subida lhe tomou, sentiu um líquido   escorrer entre suas pernas. O bebê já ira nascer.  A dor de tela foi grande , mas não tão grande  quanto a dor de saber que a sue nenê  não estava mais  dentro dela.
O marido  dela   estava feliz naquele dia, todos estavam.  A luz reluzia entre a janela do  hospital   e o quarto.   A mesa com flores,  rosas. Ela na cama   com a criança no colo.  Todos estavam felizes, mas  a Mulher de Preto não.  Não queria ser egoísta, mas  um pensamento  se repetia em sua mente. Naquele exato momento ela    não queria um bebê, ela queria uma mãe. Sentiu-se culpada por isso. Aquela pessoazinha  que estava ali em seus braços saiu do seu corpo, do seu ventre.   E  foi com o nenê no colo – uma linda menininha -  que  a mulher de preto sentiu   que  no parto tinha perdido a melhor   parte dela  - a parte feliz.

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