Capítulo 4
A mulher de Preto viaja em suas memórias. Ela se ver adolescente, entra no quarto escuro e abafado do irmão. Inúmeras fotos de mulheres nuas e roqueiras coladas na parede. O irmão deitado largado na cama, olhando para o nada.
- Maninha...não sei o que você está fazendo aqui, mas aproveite e me dê este cigarro, ta aí em cima da mesa.
Ela vai em direção do irmão e arranca o copo de bebida da mão dele.
- Que merda! Você só quer essa vida ., álcool , cigarro e pó, que isso! Essa é a vida que você quer para você. Breve receberemos a herança de pap...
- Eu to cagando e andando para a herança de papai. Disse ele levantando da cama. Pegando o copo da mão dela, indo até a mesinha do quarto e enchendo o copo com um whisky vagabundo
A Adolescente de Preto senti uma raiva incontrolável crescer em seu peito. Por alguns instantes ela é tomada de um instinto protetor. Gostaria de protegê-lo, gostaria de não se sentir mais sozinha. Ela caminha até o irmão e derruba o copo com um tapa.
– Eu já disse que não quero você bebendo!
Ele a segura pelo ombro e a empurra contra a parede.
- Quem você ta pensado que é. Se liga. Papai está morto, mamãe está morta! ninguém manda em mim. Alias... eu também estou morto, maninha. Sua mentira condenou a todos. . Eu deveria ter morrido com eles. Você não tinha o direito de ter me tirado isso... Você também está morta para mim. Vê se me esquece. Deixe-me morrer em paz. Saia do quarto. Saaaia!.
E ela sai com os olhos nadando em lágrimas.
As memórias são naves do tempo e viajam em uma velocidade fantástica, pousando em uma outra fase da vida. Já adulta a Mulher de Preto encontra a arte, monta uma Escola de ballet com a herança que recebeu. Freqüenta também a Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia. Resolve fazer teatro. Conhece outras cidades. Mas uma das mais importantes talvez tenha sido o rio de janeiro.
Copacabana, nove da noite.
Um ar boêmio na praia. A Mulher de Preto e mais duas colegas resolvem andar um pouco, sentir a textura da areia, a brisa noturna que sopra em direção ao mar. Pegam um violão convidam mais algumas pessoas e decidem fazer um Lual.
Lá pelas onze horas da noite já havia se formado uma roda improvisada na praia com uma fogueira artificial, daquelas com luzes no lugar do fogo. No ambiente algumas mulheres, alguns homens. Tudo está úmido e regado a bebida e música de violão mal tocado. A Mulher de Preto vê alguém que a chama a atenção. É um homem, sorriso doce, fraternal, lembrava o sorriso do seu pai. Ele encosta-se nela, pergunta o seu nome. Ela responde de forma clara e meiga - nada de nomes hoje, somente nossos espíritos irão falar. Ela lembrou que curiosamente vestia branco nesta noite, tomou mais um gole de bebida e depois o beijou como nunca havia beijado outro homem. Aquele seria o inicio de dois longos anos juntos.
A mulher de preto se casou- relacionamento difícil. Ela tem dificuldade de manter uma relação amigável e duradoura com qualquer pessoa, seja com o homem a ama, ou com qualquer outra pessoa. As coisas andam difícil, muitas brigas, os dois estavam morando na casa da família dele. Certo dia depois de mais uma noite de porre dela, ele levanta da cama dizendo que ela precisava arranjar uma a ocupação, que essa vida de boemia já estava indo longe demais. A mulher de preto nem dá atenção, levanta ruidosamente se olha no espelho – está um trapo. Vai ate o banheiro, pega uma caixinha que estava sobre o lavatório. – a moça da farmácia falou que era bom. Estava com a menstruação atrasada há mais de um Mês. Poderia não ser nada. Reflexo das varia noites perdidas. Mas o que é que custa não é mesmo?. Urinou num frasco e colocou uma fita de papel dentro. Cinco minutos depois havia na fita uma linha azul e outra vermelha. Sua visão escureceu e ela caiu no banheiro desmaiada. - estava grávida.
A gravidez mudou a sua vida . Era outra mulher. Alimentava–se bem, andava todo dia pela manhã para manter a forma, não perdia mais noite. Uma vez ou outra uma dor profunda lhe acometia a alma. Não sabia dizer o porque . Então ela acariciava a barriga, sabia que sue nenê estava ali e uma paz lhe preenchia o espírito. Quando a barriga já se fazia vistosa com seus oito meses e meio de gestação uma dor subida lhe tomou, sentiu um líquido escorrer entre suas pernas. O bebê já ira nascer. A dor de tela foi grande , mas não tão grande quanto a dor de saber que a sue nenê não estava mais dentro dela.
O marido dela estava feliz naquele dia, todos estavam. A luz reluzia entre a janela do hospital e o quarto. A mesa com flores, rosas. Ela na cama com a criança no colo. Todos estavam felizes, mas a Mulher de Preto não. Não queria ser egoísta, mas um pensamento se repetia em sua mente. Naquele exato momento ela não queria um bebê, ela queria uma mãe. Sentiu-se culpada por isso. Aquela pessoazinha que estava ali em seus braços saiu do seu corpo, do seu ventre. E foi com o nenê no colo – uma linda menininha - que a mulher de preto sentiu que no parto tinha perdido a melhor parte dela - a parte feliz.
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