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Prólogo
- Vai minha filha empurre! Empurre!
E os gritos de uma mulher ecoam pela noite.
Salvador,Nazaré, Maternidade Climério de Oliveira,
Sexta feira, noite.
Sala de parto.
Salvador pode ser vista de várias formas, mas a melhor delas é à noite, quando a lua brilha alto. Iluminando a Bahia de todos os santos, as ruas escuras e o leito das mulheres que amam ou que estão a parir.
A Maternidade Climério de Oliveira é um prédio antigo, situado em um bairro antigo. Á noite seu estacionamento quase sem carros, silencioso e aparentemente desértico, esconde o desespero e os gritos das mulheres que se encontram dentro de suas paredes.
- Pare de gritar e empurre esse bebê! O plantonista diz alto enquanto analisa se a criança terá passagem pelo canal vaginal da mulher.
Ela grita, o ar foge de seus pulmões quase sem querer. Ele sabe que para o bebê nascer ela terá que prender a respiração e fazer força. Mas saber e executar aquilo que se sabe são duas coisas diferentes. A dor do parto é lancinante. Ela sente-se como se estivesse sendo rasgada por dentro e somente ao longe ouve a voz do plantonista.
- Mulher, se você não fizer força essa criança não vai nascer. Escute, no próximo push quero que você empurre. Faça força de fazer cocô, certo? Vamos, ele não pode mais ficar onde está, vamos, foooorça!
A mulher sente a dor vim, e com a dor a contração vigorosa do útero que empurra o bebê em direção ao canal do parto. Ela segura firme nas barras laterais da maca e tenta buscar forças de onde não existe mais. Eu apenas observo tudo. Eu, todo paramentado para o parto: gorro, máscara, capa. Com a compressa na mão tentando proteger o períneo da mulher. Ela é gorda, forte, com pernas enormes, seu períneo cortaria o oceano atlântico de tão grande. Na posição de litotomia de fleury, deitada com as pernas para cima e sendo multigesta este parto não deveria está tão difícil.
De repente algo sai pela vagina da mulher, um liquido escuro, em grumos escuros. Mecônio? Cristo. O plantonista arregala os olhos. Sofrimento fetal grave. Muito grave. Agir é mandatório.
- Mulher, por Deus, você vai colocar esse menino para fora agora.
O plantonista coloca a mão sobre o abdômen da mulher e no momento que ela faz força ele ajuda com um empurrão vigoroso. A criança coroa fortemente pela vagina da mulher e é expulso quase como um vômito em jato bem em cima dos meus braços.
- Pequei! Disse no susto.
Senti o Recém-nascido (RN) diferente do habitual. Totalmente arroxeada, cianótica. A pálpebra esquerda lacerada. O menino estava rígido como um cadáver. O plantonista olha, segura na mão do bebê.
– rigor mortis, está morto. Nada a se fazer. Preenche o atestado de óbito pra mim. Ele Tira a luva, a máscara e sai da sala de parto.
Eu com a criança no colo. A mãe chorava copiosamente. Penso no que dizer. Mas não sei, nessas horas nunca sei o que dizer... Então sinto algo mexer em meus braços. O menino segurou firme a minha mão. Chamo o plantonista. Inacreditável! Olho o bebê que estranhamento parece rir. Dentes, recém-nascido com dentes? Eu fico paralisado sem acreditar. Ele abre os olhos pequenos, escuros e morde meu braço. A dor e o susto me fazem solta-lo ao chão. Apenas tenho tempo de ver os olhos de tristeza da mãe, a boca do menino que sorri no chão, ainda com meu sangue entre seus dentes e algumas marcas estranha em meu braço, antes de abri os olhos e acordar em meio a escuridão.
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