O que somos?



O que somos?

Hoje pela manhã
Enquanto a chuva  deslizava pela  janela do meu quarto
Pensei...
Somos lagartas!

Não nascemos de ovos
Não temos dezenas membros distribuídos pelo corpo
Mas somos definitivamente lagartas.

Somos lagartas   quando, passivamente,  aceitamos a vida como ela é.
A vida com sua hierarquia zoológica capitalizada
Onde os maiores e mais fortes oprimem os mais   fracos.
Uma vida em que a lei da seleção natural-social é tamanhamente brutal
Que nem questionamos  a sua legalidade.

Somos lagartas em nossos instintos primitivos
Pois nascemos para devorar tudo aquilo que está ao nosso redor.
Parasitamos o meio em que vivemos  alheios a dimensão do todo
- Não nos importa o todo
Nos importa o EU
O meu “estômago”
Claro, não comemos o verde  lasciviante das  pacatas plantas em que habitamos
Não comemos somente com a boca,
Pior, comemos com os olhos, com as mãos, com os bolsos.
Pois devoramos o verde das cédulas,  ou as folhas douradas do ouro
Devoramos uma planta enorme,
Tóxica
E  embriagante chamada de   Demorcatus capitalismo

E como todo animal que  se alimenta  -  também  excretamos
Mas não puramente  resíduos oriundos do metabolismo
Não, não somente,
Excretamos uma massa  seca   mal cheirosa e terrivelmente visível
 - Excretamos desigualdade
Violência
Ambição
Egoísmo
Rejeição
Indiferença

Somos lagartas!
E cada vez que penso nisto  convenço-me mais
Pois estamos sempre sujeitos a sermos predados
Predados pelas  grande ave chamada Pobreza, ou se preferir - Miséria
Ou que se alimenta sempre dos indivíduos mais fatigados
Ou  que se alimenta daqueles que possuem distúrbios sóciogenéticos congênitos
Que visivelmente se expressam através da  inoperância intelectual, da mediocridade cultural
 E da pobreza emocional de suas atitudes.
Indivíduos  que sobrevivem  apenas do instinto primitivo   da exploração sexual
– sexomúsica –sexofilme-sexoarte-sexocomercio- sexoviolencia ..sexo...sexo...

Somos lagartas...
Pois aquela pequena minoria que sobrevive a “seleção  natural”
Pensa em mudanças
São jovens lagartas
Que enchem as escolas e universidades de  casulos
Formados por uma seda fina e delicada  que  nostalgicamente chamamos de esperança
Então, cada uma  se envolve por esta seda
E é uma seda tão brilhante, tão volumosa.
Que parece ser realmente resistente,
Duradoura
Permanente... .. .
Engano,
A metamorfose é um sonho!
E ela termina como começou
 - Sem transformações
Sem mudanças.

Isto porque  as lagartas
Sabem fazer o casulo
Mas não tecer a seda , digo – o tecido

As  revoluções exigem U-n-i-ã-o

Não  percebemos  isto – nunca -
Somos lagartas
Continuaremos  a formar casulos
E a esperança continuará a ser esperança
Apenas esperança
I am sorry,  não há metamorfose.

Então, paciência,
Vamos sempre  devorar as flores  que nos dão
Sem sabermos se ela era bonita, qual a sua cor   ou se era realmente flor
Continuaremos  a viver esta mesma vidinha
Vazia
Medíocre
Sem sentido – ou, na melhor das hipóteses, criaremos um sentido vazio para essa vida sem sentido.

É ...,  somos... lagartas...

Olho novamente a janela
 A chuva nem mais cai
 E o céu  está limpo
 Um cheiro de terra úmida brota
Da mesma forma que brota um pensamento que nunca se apagará
 - Como seria bom  se deixássemos de ser lagartas
E virássemos borboletas.  

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