Vitória olhou ao redor do fosso, estava muito, muito escuro. A única luz que existia vinha da saída de emergência e da greta das portas de cada nível do prédio. O fosso tinha quatro metros de comprimento por três de largura. Havia mais ou menos um metro entre um dos lados do elevador e a parede. Vitória se pôs de pé, segurou no cabo de aço que prendia o elevador, imaginou quanto tempo eles levariam para entrar no sistema e tomar novamente o controle... A resposta foi quase imediata, um solavanco desequilibrou Vitória, e o elevador voltou a se movimentar para cima.. Droga! Ela achou que eles iriam levar um pouco mais de tempo, estava enganada. Olhou para os lados e para cima, imaginando como poderia sair daquele local, cogitou a possibilidade de se segurar no cabo de aço que descia atrás do elevador, mas logo desconsiderou a hipótese, com certeza suas mão acostumadas com tubos de ensaio não iriam sustentar seu corpo, a única coisa que conseguiria era esfolar seus dedos e acabar em pedaços no fundo do fosso. Poderia voltar para dentro do elevador...Mas seria como voltar a estaca zero... Estava perdida, definitivamente perdida.
O elevador subia rápido, Vitória olhou para cima, desconsolada, suas sobrancelhas se contorceram ao perceber algo estranho. Bem cima, como um vulto, um objeto se fazia visível, era o sobre-peso do elevador, claro! o espaço de um metro era para a passagem do sobre-peso. Ela poderá pular em cima dele, afinal ele era grande o bastante para que ela se equilibrasse em cima, era só esperar a hora certa. O sobre-peso descia rápido, estava próximo, mais próximo, ela pulou, ele já havia descido alguns centímetros, ela se agarrou no cabo de aço escorregou e parou em cima. Pronto!. Agora ela ganharia mais algum tempo. O sobre peso desceu uns dezesseis níveis, devido a escuridão não era possível nem mais ver a luz do elevador, um novo solavanco indicou a parada do elevador, o sobre-peso balançou e Vitória se desequilibrou, escorregado metade do seu corpo para fora do dele. Pernas e cintura soltas no ar... Vitória sentiu um medo gélido subir pelo seu corpo - cair significaria o mesmo que morrer. Ela olhou suas mãos segurando seu corpo com toda força que era possível, seus pés flutuavam no nada, seu vestido tinha um rasgo que se estendia da sua virilha até o borda, tentou se erguer, voltar para cima no sobre–peso, mas não conseguiu. Um som de porta abrindo vindo do elevador quebrou o silêncio. Ela ouviu vozes, mas não conseguia distinguir o dialogo. As vozes pararam e novamente um som de portas, agora fechando. Vitória sentiu que seus braços estavam cansando. Tinha que fazer algo. Colocou mais força, mais força - sem resultado. Aquela situação, curiosamente a lembrou de um dia que estava brincando no parque da cidade, estava apostando com Fabrício quem subia mais rápido no topo da árvore. Fabrício sempre medroso disse que era impossível subir ate o topo, Vitória não se conteve - vou te mostrar. Não demorou muito ela já estava bem lá em cima, a árvore era grande, e para uma criança de dez anos ela parecia enooorme. Só faltava alguns metros para o topo. Fabrício já gritava lá em baixo:
– Desce daí Vitória, você pode cair!
Mas aquela distância a voz de Fabrício já era indistinguível. Só faltava alguns metros mas um escorregão desequilibrou Vitória e quando ela se deu conta já estava pendurada em um galho, com as pernas flutuando, prestes a cair, naquele dia ela quebrou um braço e luxou o joelho. Se cair hoje as conseqüências serão bem piores.
Vitória se concentrou iria tentar colocar o máximo de força desta vez. De repente o sobre-peso começou a subir. Ela olhou para cima e viu algo que não gostaria, o elevador começava a descer - meu Deus, vou ser esmagada! A luz fraca que saia das arestas do elevador fazia com que ele se parecesse com um trem vindo em direção a um corpo preso no trilho. Os olhos de Vitória vibraram, muitas coisas estranhas já tinham acontecido com ela desde a madrugada daquele dia, mas o que ela nunca imaginou é que a morte teria um som de um elevador em movimento – Zuuuuummmm.